domingo, 2 de dezembro de 2018

Voltando às origens

É isso, depois de 10 anos com este blog, vou retomá-lo para escrever sobre meu dia-a-dia. Como se fosse um diário, mas, em formato de qualquer coisa que não deixe parecer ser um diário! Sou adepto de compartilhar conhecimento e penso que todas as mídias são bem vindas para concretizar esse anseio. Então, a partir de janeiro de 2019, espero popular este espaço com muita matéria legal sobre os vários universos que transito. Tamo junto.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nunca pare no meio


Olhos fechados, escuro e silêncio absoluto, consegue imaginar?
Então, comece a abrir os olhos e desobstruir a audição.
Uma luz branca invade quase todos os seus sentidos e um som de carros e buzinas aumentam enquanto você se dá conta da situação.
Lá estava eu, no meio da rua, do lado de um ônibus que obstruía a passagem de todos os carros que tentavam subir aquela avenida.
O cheiro do óleo diesel queimado, somando ao da gasolina e álcool dos carros do lado, encharcavam meus pulmões.
Além do barulho dos carros e das buzinas, uma pequena multidão de pessoas se aglomerava à minha volta e me faziam perguntas que eu não sabia responder.
Eu estava atordoado com aquela situação, não pensei que pudesse acontecer algo do tipo naquela manhã de domingo.
Domingo que amanheceu ensolarado, apesar do frio que aquelas manhãs traziam da madrugada.
O céu sem nuvens, azul de brigadeiro, me convidou a sair e desfrutar de minha nova câmera fotográfica, apesar de saber, que em dias nublados, as cores saem mais realistas.
Por morar perto do metrô, sempre saio com o mínimo necessário.
Desta vez, não foi diferente, não levei nada além dos óculos escuros, o bilhete único  a câmera fotográfica e uma filmadora, mini dv, que carrego sempre comigo, antiga, mas companheirona.
Em cinco minutos já estava dentro do vagão sem saber o que estava acontecendo nos vários cantos da cidade.
Mudei de linha na estação consolação, fui da verde para a amarela, e, alguns minutos depois, desembarquei na Luz.
Surpreendi-me ao ver que estava tendo uma exposição de carros antigos.
Foi legal, fotografá-los, um a um, modelo por modelo.



Perdi ótimos minutos observando detalhes tão bem guardados, poupados e restaurados naquelas raridades.
Queria poder ter ficado mais, mas, queria fazer algo diferente do que sempre faço, então, voltei para o metrô.
Já dentro do trem, observei no monitor, um chamado para uma exposição fotográfica no SESC Vila Mariana.
Ótimo, vou fazer algo diferente, li apressado e entendi que teriam máquinas em exposição, saí correndo e fui em direção à estação Vila Mariana, o título do evento era: “Câmeras Fotográficas Analógicas: De 1920 a 2000 no SESC Vila Mariana”.
Ao chegar, na estação Vila Mariana,observei no mapa da região e não encontrei o SESC.
Perguntei a um funcionário que me orientou a não descer nessa estação, e sim, na estação Ana Rosa.
Sem perder a passagem, voltei e peguei o próximo em direção à Ana Rosa.
Ao mesmo tempo em que fazia minha meu passeio, filmava minha saga na pequena e velha filmadora, que, mais uma vez, me acompanhara nessa aventura.
Chegando no SESC , me informei na recepção e fui direcionado para o vão do prédio, no térreo.
Lá haviam apenas fotografias,várias fotos tiradas em vários eventos, aparentemente, religiosos.
Não era o que eu pensei ter ido ver, de qualquer forma, apreciei as quase 50 fotos na exposição “Memória do Rito – Tradições Populares Italianas”  de Lamberto Scipioni, fotografei uma para guardar de recordação.
Saí do SESC, confesso: meio frustrado, no entanto, satisfeito por ter encarado uma ação diferente das de sempre.
Da mesma maneira que fiz para chegar ao SESC, refiz o caminho invertido para chegar ao Metrô.
Saí da rua Pelotas, entrei pela Humberto I, viraria na Av. Conselheiro Rodrigues Alves e subiria até a esquina com a Vergueiro, no metrô.
Meu domingo e minha vida mudariam nesse trajeto.
Depois de entrar na Humberto I, caminhei, desatentamente, lendo a revista com os eventos previstos, para o SESC, em Junho, pois, ainda não havia me convencido que fui  à exposição errada. No dia seguinte, eu perceberia que vi exposição errada, pois a exposição de câmeras fotográficas analógicas acontecia em outro ambiente, no mesmo SESC. Mas essa é uma outra história.
Continuei caminhando pela rua Humberto I e estava chegando na página 81, da revista, onde encontraria as apresentações da Vila Mariana, quando levantei  os olhos  e notei algo diferente acontecendo no cruzamento:
Vi uma moça, aquela que segura placa de imobiliária, conversando com um rapaz, no meio da faixa de pedestres, na verdade, ela foi se oferecer para ajudá-lo a atravessar.
Pude perceber que ele andava muito devagar sobre a faixa e ela o deixou e voltou para seu posto de expositora de placa.
Cheguei perto dela e, notando que o rapaz atravessava muito lentamente, perguntei se ela sabia o que estava acontecendo.
Ela respondeu que ele não queria ajuda, se alguém “encostasse nele”, ele travaria de vez.
Diante do fato, fiquei preocupado com a segurança do jovem e resolvi esperar até que ele terminasse a travessia.
Acontece que, do meu lado direito, na rua Humberto I, o semáforo estava fechado, e muitos motoristas, inclusive o de um ônibus, esperavam ansiosos pela luz verde.
Olhei para o rapaz e vi que não daria tempo, esperei para ver qual seria a reação dos motoristas quando o sinal abrisse.
Agora, relembrando tudo o que aconteceu, vejo que eu poderia ter feito um milhão de coisas diferentes e evitar o stress que aconteceria a seguir.
Quando o semáforo abriu, alguns carros que estavam do lado esquerdo do ônibus foram em linha reta sem precisar virar para a esquerda, onde o rapaz continuava sua difícil caminhada.
Infelizmente, o ônibus faria a conversão à esquerda e o motorista começou a manobra.
No meio da curva, o ônibus encostou sua lateral no moço, pensei que ele desabaria, ele parou, não caiu, suas pernas tremiam muito.
Ao ver aquilo, eu não poderia ficar como espectador daquela situação sem ajudar, teria que fazer algo, afinal para que existimos se não conseguimos intervir para melhorar ou ajudar a vida do próximo?
Não sei se o problema dele era neurológico ou psicológico, mas, o que interessava agora, era que ele estava no meio da pista, travado, e ouvindo um monte de buzinas que quebravam o silêncio daquela bela manhã.
O ônibus abriu a porta por onde saiu um senhor que foi logo tentando pegar o moço pelo braço.
Nessa hora, deixei de ser espectador e voei na frente daquele homem, e não permiti que ele tocasse no rapaz.
Comecei a intervir com todos que se aproximavam, e solicitei que saíssem da frente, para que a travessia pudesse ser concluída.
O impacto do ônibus não o machucou, mas atrapalhou sua concentração.
Nessa hora, uma pequena multidão estava se formando ao seu redor, e eu, como um louco, pedia que todos se afastassem, que ele queria apenas terminar de atravessar a rua.
Motoristas gritavam de dentro de seus carros, se dispondo a ajudar, e eu gritava de volta, negando tais ajudas.
Em poucos segundos, uma manhã tranquila se transformara em um evento incômodo de ruídos e situações inimagináveis.
Fiquei ao lado do jovem e notei que muitas lágrimas escorriam dos seus olhos.
Também chorei com ele nesse momento, não sei se ele percebeu, meus óculos ocultavam a reação de meus sentimentos.
Foram alguns minutos até que eu o deixasse, “ em segurança”, do outro lado da rua.
Perguntei se precisava de mais ajuda, e ele, ainda com muitas lágrimas escorrendo pelo rosto, me disse que não precisava mais de ajuda.
Saí andando de costas e continuei a observá-lo até que não o vi mais.
Subi a avenida Conselheiro Rodrigues Alves até o metrô, e até agora, mil perguntas me atormentam.
Porque não perguntei o nome do moço?
Porque não o ajudei mais?
Porque fui embora, enquanto faltavam muitos trechos para ele percorrer?
O que estou fazendo aqui, se na hora de se útil, paro na metade do caminho?
Nunca terei as respostas, mas sei que, se houver uma próxima vez, não vou parar no meio, irei até o fim.
Espero, de coração, que o rapaz que atravessava a rua, consiga atravessar seus problemas e os solucione, enquanto eu, permaneço tentando solucionar os meus.

quinta-feira, 29 de março de 2012

As perdas



Em menos de uma semana, o cenário da cultura brasileira sofreu perdas lastimáveis.
Todos ficamos com um sentimento profundo de impotência diante dos nossos destinos.
Isso mesmo, diante dessas perdas, não podemos voltar no tempo para saná-las ou desativá-las.
Temos, sim, que permanecer vivos com nossas lembranças e tentar melhorar a partir de todo o legado deixado por eles, como herança.
Na verdade, desde que nascemos, somos obrigados a conviver com as perdas.
A desconexão do cordão umbilical, e a primeira e dolorida respirada é uma experiência dramática de separação.
É quando perdemos e choramos pela primeira vez.
Durante a vida, nem sempre choramos as perdas, e nem todas as perdas são para sempre, mas as que ocorreram esta semana...
Existem perdas que são temporárias, mas, se pensarmos melhor, todas as perdas são temporárias.
Porque, quando deixarmos de ser o que somos, de nada terá valido nossas vidas, a não ser que deixemos, como eles deixaram, um legado, uma herança cultural.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ah o tempo...

Cada tic e tac que passa

É como se fosse um martelo de ferro

Arremessado com força e que acerta minha face.

Cada segundo no mundo

Com esse sentimento profundo,

E sem você por perto, é como se,

Numa piscina, estivesse no fundo

Com olhos e boca abertos

Sem o ar para respirar.

A dor não é no coração,

é na alma que dói a emoção,

De saber que você existe, que não está triste,

Que não está perto nem longe.

Te vejo mas não te ouço

Meus olhos e boca estão abertos,

Não consigo falar nem respirar.

Temo que o tempo passe,

E que nossas construções desabem.

O tic e o tac são implacáveis

Nos derrota a cada instante

Me amordaçam, me ensurdecem e me emudecem.

Tempo, sei que nada resiste a ti,

Mas, gostaria de fazer um pedido:

Uma Mac Oferta número três

Com batata grande e um suco,

De uva, pequeno.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Acordar é preciso.

Vou deitar atrasado, pois, preciso acordar cedo, vou de trem no dia seguinte.

Noite tranquila, minha rua é sossegada, não chove, clima agradável.

As vezes, quando durmo, sonho com assuntos relacionados aos sons da TV, que esqueço de desligar, mas desta vez, estou tão cansado, que nem a TV quero deixar ligada, quero silêncio absoluto para meu sono.

Porque vou de trem?

Com exceção da semana passada que choveu de segunda a sexta-feira, separo um dia da semana para geração zero de CO2, ou seja, vou de trem da minha casa até o meu trampo.

No horário designado para dia de CO2 zero, meu despertador toca, na verdade o que chamo de despertador, é meu aparelho multifuncional telefone, rádio mp3 player e internet de bolso, (Não é TeckPix) apesar de ser um pouco grande para caber no bolso. Meu sono é tanto, que meio acordado meio dormindo, aciono o botão soneca, para curtir mais uns dez minutinhos de sono, como sou prevenido, aproveitei uns minutos de ontem para fazer a barba.

Logo depois, lembro-me que preciso levantar, pois quando vou de trem, tenho que sair mais cedo.

Levanto-me, cambaleante, como sempre, tomo banho, faço todas as rotinas matinais antes de sair de casa, me visto e saio.

Durante o percurso encontro com outras pessoas, que como eu, optam por utilizar o transporte público e de energia limpa, metrô, trem, bicicleta a pedal e bicicleta elétrica.

Cada um, durante a caminhada, com seus fones nos ouvidos trocam informações, uns com os outros, ou entre eles e seus familiares e amigos em outros pontos da cidade.

Ficamos sabendo como está o tráfego dos trens, se existe uma melhor rota a se tomar ou se existe algum evento que possa atrapalhar nosso deslocamento.

Entro no trem do metrô, sento-me confortavelmente enquanto revejo a agenda do dia, no meu mobile, que é o mesmo aparelho telefônico, agenda, microcomputador, GPS entre outras funções (Não é TeckPix) que posso acioná-las quando houver necessidade, até um supercomputador fica a minha disposição, quando preciso de cálculos de previsão de tempo ou coisas do gênero.

As operadoras de telefone possuem vários canais de redirecionamento de ações, que posso comandar a partir de meu aparelho.

A viagem é tranquila, no entanto, para chegar ao meu escritório, tenho que fazer algumas trocas de trem, sem problema, pois sempre que saio de um, atravesso uma passarela e já existe outro me aguardando na plataforma.

Chego sempre no horário, mas hoje foi um pouco diferente.

Após sair,na última estação, a alguns metros do meu escritório, pude observar alguns pais levando seus filhos à escola.

Lembrei-me que hoje era o primeiro dia letivo do ano e me emocionei ao ver vários pais levando seus filhos para o primeiro dia de aula de suas vidas.

Todas as crianças, devidamente uniformizadas, carregavam um pequeno celular, parecido com o meu, mas em maiores dimensões, o aparelho, dotado de comunicação móvel 6G já foi identificado pela escola no momento do cadastro do aluno, e já providenciou que todo o material necessário para esse aluno, ficasse disponível nas grandes nuvens educacionais disponíveis pelo governo em conformidade com todas as instituições de ensino cadastradas nesse convênio.

O aluno poderá acessar todos os materiais de leitura, áudio ou vídeo, disponíveis para a série que cursa, além de poder compartilhar seus trabalhos com todos os alunos do país inscritos no mesmo curso e que utilizam o sistema integrado governo escolas.

É emocionante ver essas crianças iniciando seus primeiros passos escolares com mais de cinco mil horas de informações captadas nas telas de TV, integradas com internet e compartilhando com seus novos amigos.

Continuo caminhando rumo ao prédio onde trabalho, contemplando mais um dia de sol na cidade.

Ouço uma ambulância bem longe, o som vai aumentando, aumentando, até que, quando está bem perto de mim, noto que o som dessa sirene é bastante familiar, lembra meu despertador, aliás, é meu despertador, preciso levantar, hoje vou de trem...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Ganza narra, eu escrevo, ele tráz as imagens e completamos.



Aquele dia seria muito especial, 23 de agosto, acordamos as 04h00 da manhã, nos vestimos, tomamos um chá de coca e nos reunimos em torno do guia, que, brilhantemente, nos conduziu até aquele momento.
Seria o último trecho para atingirmos um objetivo sonhado, pensado, desenhado e seguido, passo a passo até aquele instante.
O frio era intenso, dificultava nossa caminhada, o ar rarefeito fazia com que nosso corpo ficasse mais pesado, nossos passos lentos, mas não desistiríamos agora.


Numa altitude acima de cinco mil metros , o silêncio só era quebrado pelo uivar dos ventos dos glaciares.
Faríamos, a partir daquela posição, o ataque ao cume.


Naquele instante, deixávamos para trás Chacaltaya, Condoriri e Pequeño Alpamayo.

Não posso citar aqui, Illimani, pois seria uma próxima aventura, que ainda não conseguimos concretizar, a cordilheira real andina, com seus picos nevados, terá que nos esperar.

Durante este último trajeto, ainda no escuro da noite, os pensamentos vêm e vão, me lembro a cada instante do som dos tambores tocados em Los Yungas, onde ficamos antes de enfrentar esta lendária e imponente montanha.


Eu a avistava e contemplava desde que passei por La Paz.

A aclimatação que fizemos foi perfeita e as várias paradas estratégicas nos ajudaram a chegar inteiros para este momento.

Huanya Potosi estaria abaixo de meus pés em poucas horas e eu teria escalado seus mais de seis mil metros partindo do colo de Zongo e enfrentado todas as trilhas e acampamentos gelados desta montanha.Foram alguns dias estressantes, pois, mesmo evitando a face oeste para escalarmos, sabíamos que teríamos um grau de dificuldade alto e os nossos amigos andinistas seriam fundamentais para o sucesso da escalada.


Todos em fila e lançamos o ataque, após trinta minutos de subida íngreme, deparamos com um paredão de gelo, nesse momento, as botas rígidas, os piolets curtos, a corda e os pitons de gelo fazem a diferença.Faltavam poucos metros, eu estava no final da fila, abaixo de mim somente mais três componentes do grupo. Como qualquer escalada, todos cuidam de todos, e na preocupação de acompanhar a subida dos colegas abaixo de mim, quase não percebi quando atingi o cume. Voltei-me para os rapazes que ainda subiam e os auxiliei, com as cordas, a executarem seus últimos passos em direção ao topo.Pronto, missão cumprida.Levanto-me e consigo, pela primeira vez, concentrar-me no espetáculo que encherá meus olhos pelos próximos quinze minutos.

O grupo todo ficou em silêncio, contemplando uma das paisagens mais belas da Terra.
Durante a noite, a névoa que ronda a montanha baixou sobre seu vale, forrando, com um gigantesco tapete branco, toda a volta da montanha.


Ao oeste, a noite era plena com um céu incrivelmente estrelado, enquanto que ao leste, o brilho dourado do sol começava a despontar.


Era como se estivéssemos em órbita a observar o grande planeta azul dando mais um show de beleza impar.
Senti-me egoísta ao não produzir qualquer tipo de som naquele momento, como se eu tentasse guardar para mim, até a vontade de gritar.
Meu diário de viagem estava comigo, e consegui registrar, com grande emoção, as palavras que hoje compartilho com o mundo.

Ass. Nelsinho, inspirado na narrativa de um amanhecer magico...